Quando cursava
bacharelado em fotografia em 2008, curso que não concluiu por motivo de força
maior, Jesuel Santana, fotógrafo profissional há 12 anos, deveria realizar o
término de conclusão de curso (TCC) junto com outro trabalho. Foram dadas três
opções aos alunos: Apresentar uma exposição fotográfica, produzir um catálogo
ou um vídeo. Ele optou pelo ensaio fotográfico que já começou a ser cogitado
durante o 2º período da faculdade.
O meio de
transporte utilizado por ele para ir ao trabalho e à faculdade era o ônibus.
Sentado dentro do coletivo, observava pelo retrovisor do veículo o movimento
das pessoas e seus sobe-e-desce. Toda
essa movimentação trouxe-lhe uma ideia muito fértil e exótica que se transformaria
no ensaio desejado pelo artista para tal fim. Mas, afinal, onde estaria o
grande diferencial desse ensaio? No elemento de intervenção da imagem, um
espelho, colocado nas mãos de cada pessoa fotografada. Um elemento
fortalecedor, tradicional e simplório que se tornou itinerante.
Realizada a
produção para a exposição fotográfica que não houve, a ideia de dá continuidade
ao ensaio fotográfico utilizando-se o espelho, não mais saiu da mente do
artista. Porém, o fotógrafo queria perpetuar esse trabalho de um outro modo.
Algum tempo depois cria, com o mesmo nome da exposição que se chamaria “O
ESPELHO DA COMUNIDADE NO REFLEXO DO COTIDIANO”, o blog “ESPELHO”, no ano de
2012, do qual é dono e administrador.
Um blog é uma revista eletrônica que pode ser atualizada a qualquer momento.
O “ESPELHO” tem como objetivo
principal divulgar a arte periférica. Ser um catalizador do que o povo produz
espontaneamente de bom e de belo.
Todavia, nada impede que outras expressões artísticas mais
intelectualizadas sejam retratadas nesse mesmo espaço, também.
A distância de um lugar nem sempre é
uma limitação à produção constante desse espaço virtual que tem como
colaboradores André Santana e a comunidade.
Essa produção mostra não somente
aquilo que se convencionou chamar de arte, mas aquilo que é arte e passa
despercebido pela maioria das pessoas. Sendo assim, as imagens fotográficas vão
desde um grande escritor ou cantor a um vendedor de doces que no sobe e desce
das escadarias e ladeiras do subúrbio em que mora, luta para manter sua vida e a dos seus. Afinal de contas, viver é arte e arte é
viver. Lentes e vidas em um mesmo trabalho de improvisos e de histórias
eternizando sentimentos, trejeitos e costumes através de um olhar que a cada
clic das pálpebras, revela a identidade de um povo.
Esse Jornalismo informal do “Espelho
da Comunidade” não tem fins lucrativos. Pois a essência primeira dele é mostrar
a realidade de pessoas trabalhadoras, possuidoras de uma dignidade rara e que
nunca foram chamadas de especiais, como também nunca receberam um parabéns por
isso. Mas, se o mesmo chegar a ser rentável um dia, não perderá sua característica peculiar, pois o amor à
arte é o que prevalece.
Esse fazer
artístico de imagens e
sons é um trabalho de equipe. A isonomia é mais uma marca dele. Um fazer que
exige ampla dedicação. Realizado sem equipamentos sofisticados e sem transporte
próprio. Há uma exaustão em produzi-lo, é claro, mas há também uma satisfação
muito maior. Uma produção que vai além de si mesma quando
devolve a autoestima de pessoas que nunca se imaginaram fora do anonimato.
Mostradas ao mundo pela internet através de fotos e vídeos.
O reconhecimento de uma obra é fruto
de muita dedicação, superação, simplicidade, inspiração, perseverança, estar
antenado o tempo todo nas notícias do mundo e, acima de tudo, gostar de
pessoas.
Explorar a imagem, sua reflexão e o
meio social em que ela acontece. Mostrar as comunidades para elas mesmas é
desejar um país que se vê, que se reconhece, que se ama ou não, que produz e
reproduz arte e que luta com muito sacrifício para manter-se equilibrado. Por
isso, luz, câmera e ação são outros elementos dessa obra.
Sendo um trabalho que agrega pessoas e
valores, “o espelho” sempre estará aberto à críticas e sugestões. Sempre à
disposição do público dentro de uma ética e de um raciocínio lógico. Sempre
pronto para clicar o tempo e a vida.
0 comentários:
Postar um comentário